terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Nadir homenageado aos 90 anos

Nadir homenageado aos 90 anos



O pintor, que hoje completa 90 anos, é o convidado de honra do XXIV Salão de Outono do Casino Estoril.


Uma semana depois de, pela terceira vez, ter sido operado à coluna, Nadir Afonso já estava debruçado sobre uma das várias telas que tem começadas. Desenrolada no chão da sala de trabalho, no segundo andar da sua casa, em Cascais, o pintor descobrira algo que precisava de ser retocado. "Eu demoro muito tempo para criar uma obra", diz. "Isto é um namoro para encontrar a forma pura, porque há leis matemáticas", revela.

Aos 90 anos, Nadir Afonso, um dos mais importantes pintores contemporâneos portugueses, continua a trabalhar com o mesmo prazer e entusiasmo de sempre, tentando encontrar a forma pura, absoluta, matemática. E três dias antes do seu aniversário, e da homenagem que a Galeria de Arte do Casino Estoril lhe rende, afirma convicto: "Aos 90 anos posso dizer que encontrei um sentido para a arte, ou seja, encontrei as leis que regem a obra de arte."
Para além de apresentar doze obras na exposição enquanto os 50 artistas convidados estão representados apenas com dois trabalhos, Nadir terá ainda direito a bolo de aniversário. Para o pintor, esta homenagem representa o encontro com velhos amigos, "alguns desde as Belas-Artes" no Porto, onde se formou em Arquitectura, no início dos anos 1940.


Mas não se alonga sobre o assunto. É que estas miudezas do dia-a-dia escapam-lhe. A ele, o que lhe interessa é a arte, a criação artística e a teoria estética que investigou desde cedo na sua carreira e que defende, contra tudo e contra todos. "Toda a minha vida procurei as leis que regem a obra de arte. Dizem que o artista é intuitivo e faz o que faz sem perceber, que o faz por intuição. Eu cometi a gaffe de tentar fazer e compreender o que faço. E, porque tenho uma estética, tentei depois explicar porque faço", diz, aludindo às várias obras que escreveu, desde La Sensibilité Plastique, em 1958, a O Tempo não Existe, editado já este ano. E toda essa busca teve consequências. "Cheguei a conclusões que diferem totalmente das conclusões vigentes. Não só em Portugal mas à superfície do planeta", afirma. "A meu ver, a obra de arte é regida por leis matemáticas. Há uma qualidade no espírito do homem que é puramente intuitiva. E trabalhando as formas, inconscientemente, o verdadeiro artista emprega leis matemáticas das quais não se apercebe", refere. Mas chegar a este ponto exige muito trabalho, muita perseverança. Por isso é o crítico mais feroz da sua obra: "O que foi apresentado no Museu do Chiado não vale nada", confidencia, referindo-se à exposição que este Verão foi apresentada, com obras realizadas entre 1930 e 1960. "No início ainda não tinha compreendido que havia as leis matemáticas", justifica.

por MARINA MARQUES in "Diário de Notícias"

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