quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

A precisão de Aires Mateus chega a Madrid


O projecto do atelier português procura responder aos critérios de inovação conceptual, preocupações de sustentabilidade e atenção às necessidades sociais dos habitantes 
Ocolectivo de arquitectos Aires Mateus encontra-se a projectar 230 unidades de habitação, integradas num empreendimento inovador de iniciativa municipal e do qual fazem parte outros nomes sonantes, como os celebrados David Chipperfield, Ricardo Legorreta ou Thom Mayne, do atelier Mor- phosis.
O projecto do atelier português procura responder aos critérios de inovação conceptual, preocupações de sustentabilidade e atenção às necessidades sociais dos habitantes, os três eixos sobre os quais assenta este empreendimento de Carabanchel, no Sul de Madrid e que no total irá receber 35 000 novas habitações. A parcela onde o atelier Aires Mateus irá intervir é considerada "protegida" pelo municíopio madrileno, por representar um maior investimento económico e estético.
O conceito dos irmãos Francisco e Manuel Mateus é extremamente simples: o conjunto edificado tem a forma de um quarteirão, no interior do qual funciona um grande jardim/parque para os residentes. Com oito pisos de altura e ocupando perto de 14 mil metros quadrados, o conjunto apresenta uma clara distinção entre o que é edificado e o que é espaço livre. Assim, o jardím é quase "selvagem", extremamente orgânico graças a uma topografía irregular, caminhos sinuosos e manchas verdes ondulantes. Por outro lado, o edificio é rígido, assenta numa métrica modular evidenciada nas fachadas, estas de cor cinzenta graças aos revestimentos pétreos e em betão.
Nesta, e em grande parte da obra do atelier, predomina a composição volumétrica e de fachada baseada na ideia de desfragmentação, só possível graças à verstailididade do módulo. Assim o edificio é predominantemente mais denso nos pisos mais baixos, junto ao solo.
Esta ideia é enfatizada pelo revestimento, quase negro. À medida que o edificio se ergue, os módulos vão-se tornando mais claros, cinza, e à medida que se acerca do topo, a massa construída vai alternando com vazios, criando um interesante jogo de cheios/ /vazios.
As fachadas , com presença extremamente forte no conjun- to, resultam da alternância opaco/transparente, i.e., parede/vidro. Esta sequência é disposta de uma forma assimétrica e aparentemente dissonante. Mas resulta de ritmos cuidadosamente pensados, de forma a imprimir movimento e dinamismo à forma arquitectónica densa e pesada.
Esta precisão arquitectónica é uma clara alusão à arquitectura clássica, especialmente romana: na evocação das regras rígidas de composição, dos ritmos fortes e verticais, e no apreço pelo elemento parede, a massa que delimita o invólucro construído e que medeia o interior e o exterior. Com precisão, quiçá frieza. Mas sem medo do cânone.

por CLÁUDIA MELO in "Jornaç de Notícias"

Sem comentários:

Enviar um comentário